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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Mostrar ou amostrar?

















Os brasileiros sempre querem saber o que é certo e errado; às vezes é tudo uma questão de regionalismo

O brasileiro tem a mania de querer saber qual é o "certo" e qual é o "errado", como se tudo se resumisse a esse tipo de dúvida.


Temos uma certa dificuldade de entender ou de aceitar formas alternativas. A realidade nos ensina que há variantes lingüísticas válidas. Em razão disso, o ensino de uma língua deve mudar do simples "certo ou errado" para o "adequado ou inadequado" num determinado nível de linguagem, para o mais recomendável ou não, para a forma preferencial em certas situações...

O que existe, muitas vezes, é a linguagem da maioria, mas isso não significa que um regionalismo seja "errado".

A dúvida de hoje é muito interessante. O verbo mostrar é a forma usada pela maioria. A variante amostrar é menos usada, mas isso não quer dizer que esteja "errada". O fato de ser um regionalismo ou de marcar uma fala "menos culta" não caracteriza um "erro gramatical".

É interessante observar que o substantivo derivado mais usado é amostragem. Praticamente ninguém fala "mostragem". Forma, inclusive, sem registro na maioria de nossos dicionários.

Já no caso de mostra e amostra, os dois substantivos convivem harmoniosamente: "mostra fotográfica" e "amostra grátis". Isso significa que as duas palavras "existem". A diferença entre elas não está no significado, mas nas situações de uso. Torna-se, portanto, uma questão de adequação.

Caso semelhante acontece com os verbos baixar e abaixar. Não discuta, portanto, se os juros baixaram ou abaixaram. Importante é que os juros diminuíram.

Assim sendo, é perda de tempo ficar discutindo se a pronúncia correta do particípio irregular do verbo pegar (=pego) é /pégo/ ou /pêgo/. Se poça d'água é /póça/ ou /pôça/. Se a casa é "da Maria" ou "de Maria". Se a fruta é cáqui ou caqui. Se o certo é falar quiuí (kiwi) ou quívi. Se a pronúncia correta de Roraima é /Rorãima/ ou /Roráima/. Se o plural de sogro é /sôgros/ ou /sógros/.

No Rio de janeiro, falamos /pégo/ e /pôça/ d'água. Em São Paulo, a pronúncia preferencial é /pêgo/ e /póça/ d'água. No Rio de Janeiro e na maioria dos estados brasileiros, a casa é "da Maria"; em Niterói e em algumas regiões brasileiras, a casa é "de Maria". Em quase todo o Brasil, falamos cáqui e quiuí. No sul, falam caqui e quívi. A maioria dos brasileiros fala /Rorãima/, mas lá eles preferem /Roráima/. No Brasil, dizemos /sôgros/; mas, em Portugal, eles pronunciam /sógros/.

Isso tudo comprova que não há o certo ou o errado, e sim formas preferenciais ou a língua da maioria.

Todas as variantes lingüísticas devem ser aceitas como válidas, embora possam ser inadequadas em determinadas situações. Importante é que todos os regionalismos sejam respeitados.

O leitor quer saber

Entreguei-o ou Entreguei-lhe?

Depende. As duas são possíveis.

Os pronomes oblíquos átonos O(S) e A(S) substituem objetos diretos: "Encontrei o aluno" = "Encontrei-o"; "Comprei os livros" = "Comprei-os".

O pronome oblíquo LHE(S) substitui objetos indiretos: "Obedeço ao pai" = "Obedeço-lhe"; "Disse aos amigos" = "Disse-lhes".

O verbo entregar é transitivo direto e indireto: quem entrega sempre entrega alguma coisa (objeto direto) a alguém (objeto indireto). Em "Eu entreguei o livro ao professor", "o livro" é o objeto direto e "ao professor" é o objeto indireto. Se substituirmos "o livro", fica "entreguei-o"; se substituirmos "ao professor", fica "entreguei-lhe".

No português do Brasil, é preferível colocarmos o pronome átono antes do verbo (= próclise): "Eu o entreguei" e "Eu lhe entreguei".

Dicas para concurso

Uso dos pronomes pessoais

1. Para mim ou para eu?

Depois de preposição devemos usar mim e ti, exceto se o pronome for sujeito. Nesse caso, devemos usar os pronomes pessoais retos eu e tu.

Ela depende de mim.

Confio em ti.

Não há segredos entre mim e ti.

Não há segredos entre você e mim.

Não há segredos entre Maria e ti.

Ela trouxe o jornal para mim.

Ela trouxe o jornal para eu ler.

Ele fez isso por mim.

Ele fez isso por eu estar cansado.

Irás até mim.

Irás até eu interromper.

É um texto difícil para mim.

É um texto difícil para eu ler.

Para mim, viver nesta cidade é um tormento.

Para eu viver nesta cidade, foi preciso que os amigos ajudassem.

Teste da semana

Que opção completa corretamente as lacunas da frase "Eu __________ e ___________ muito"?

(a) respeito ele / admiro ele;

(b) lhe respeito / admiro-o;

(c) o respeito / lhe admiro;

(d) lhe respeito / admiro ele;

(e) o respeito / admiro.

Resposta do teste: letra (e). Os verbos respeitar e admirar são transitivos diretos. Isso significa que devemos usar o pronome pessoal oblíquo "o": "Eu o respeito" e "Eu o admiro". O pronome "lhe" substitui objetos indiretos e o pronome pessoal reto "ele" substitui o sujeito da oração. Como o objeto direto das orações é o mesmo, não é preciso repeti-lo. Podemos deixá-lo oculto: "Eu o respeito e admiro".

Sérgio Nogueira

http://jornal.valeparaibano.com.br/2006/11/23/viv01/lingua.html

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Machismo gramatical


Patrícia Amorim foi eleita presidenta do Flamengo. E essa é a questão. Não ouvi nem vi ninguém dizer ou escrever que ela foi eleita presidenta do clube. Os meios de comunicação preferem a concordância que exige uma ginástica mental danada de feia para dizer "a presidente" do Flamengo. É assim que tem saído nos jornais, é assim que se disse, por todos estes dias, na TV. Isso sugere a alguém desavisado que o substantivo presidente não tem feminino. Mas tem, sim, como está em todos os dicionários - e no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicação da Academia Brasileira que funciona como repositório oficial das palavras da língua. E lá aparece como verbete independente, como também no Houaiss e no Aurélio.

O Houaiss, feito sob a competentíssima direção do finado Antônio Houaiss, substituído depois por Mauro de Sales Vilar (cujas consoantes dobradas no meio dos dois sobrenomes ele próprio acha um excesso, como me disse num bilhete, por isso suprimo uma delas aqui, em ambos os casos), o Houaiss, eu dizia, tem lá no seu verbete presidenta um exemplo: "a presidenta da Nicarágua", o que não impede nossos jornais e revistas de tratar seguidamente a homóloga do Chile de "a presidente do Chile" (Michelle Bachelet).

Ora, se para primeiro-ministro temos primeira-ministra (caso atual da Alemanha), por que para presidente não teríamos presidenta?

"A presidente" é forma tão rebarbativa que chega a doer no ouvido, o leitor há de convir comigo, mas - devem raciocinar os que recorrem a tal esdrúxula concordância - é "sofisticado", é "diferente". Há de ser, sem dúvida. No mínimo temos aí alguma coisa muito enfeitada, como é enfeitada a geladeira que tem em cima um urso branco de louça.

As mulheres vêm sofrendo, através da história, com a permanente situação de inferioridade para a qual são calcadas pelos homens. Mas é tempo de reagir com grandeza, não como fez há tempos uma bobalhona nos Estados Unidos comandando uma grotesca queima de sutiãs. É tempo de reagir de maneira séria, exigindo, por exemplo, que os cargos importantes, os cargos cuja ocupação exige um comportamento digno (que o Governo do Distrito Federal não seja luz a iluminar esse caminho) tenham tratamento através do bom e velho gênero feminino.

Na Câmara, temos deputados e deputadas. No Senado Federal, senadores e senadoras. Mas, se a dignidade do cargo é extrema, como no caso de presidente da República, deixamos de ter presidente ou presidenta, o gênero de acordo com o sexo. Ficamos apenas com o masculino. A mensagem é clara, o sexo feminino não merece consideração que o leve a igualar-se ao masculino numa posição suprema: aí, então, o tratamento não pode mais ser feminino, tem de ser "a presidente", ainda que tal concordância quase nos quebre a língua.

Bem sabemos que não é só quanto a esse tipo de tratamento que a mulher sofre a imposição de uma suposta - e arbitrária - superioridade masculina. Lembremos a questão dos nomes próprios. Uma boa parte deles nasce de um nome masculino e só se torna nome de mulher quando recebe uma desinência feminina. Uma exceção é Mariana, que, como lembra Mestre João Ribeiro em suas "Curiosidades verbais", forma-se pela justaposição de Maria e Ana (Nossa Senhora e sua mãe). De Mariana é que nasceu o nome masculino Mariano. Mas esse é um processo raríssimo.

Entre os romanos eram de tal forma desimportantes os nomes de mulheres (como as próprias mulheres eram desimportantes, no âmbito doméstico) que costumavam ser apenas um diminutivo dos nomes masculinos. É ainda João Ribeiro a lembrar os exemplos: Messalina, do nome masculino Messala; Agripina, de Agripa.

Quem se chama Patrícia ainda tem sorte, não se trata de um diminutivo: é apenas o feminino de Patrício. Como se sabe, patrícios eram, por assim dizer, os nobres romanos, elite à qual se conferia alta dignidade, sobretudo a partir de Constantino. Do nome comum, designativo de classe, passou-se ao nome próprio, do nome próprio masculino fez-se o feminino Patrícia.

E estamos de volta a Patrícia Amorim, suas glórias em nossa natação, sua eleição recente para a presidência do clube mais popular do Brasil. Mãe de quatro filhos, é inaceitável que ela venha a ser designada pelos meios de comunicação através de um substantivo masculino, "a presidente do Flamengo", cargo que assume no próximo dia 21. Seria o caso de ela própria chamar a atenção dos repórteres recalcitrantes: "Por favor, mulher e mãe, tenho o direito de ser tratada por uma forma feminina. Sou presidenta do Flamengo, não sou presidente".

Chega de machismo gramatical.


MARCOS DE CASTRO é jornalista.

http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2009/12/18/machismo-gramatical-915272651.asp

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Expressões que confundem


Parecidas, certas locuções possuem usos e significados distintos

Embora sejam muito semelhantes, as locuções conjuntivas "à medida que" e "na medida em que" têm significados diferentes e nem sempre podem ser tomadas por sinônimas. O mesmo se dá com "em vez de" e "ao invés de", expressões similares, mas de uso sutilmente distinto. "Haja vista" é outra expressão invariável, formada pela terceira pessoa do imperativo afirmativo do verbo "haver" com o substantivo feminino "vista". Tem o significado aproximado de "veja" e costuma ser fonte de muitas dúvidas.

As chamadas "locuções conjuntivas" são formadas por duas ou mais palavras com função de um só vocábulo. Equivalem, portanto, a conjunções - palavras ou expressões que relacionam orações - e além de ter forma invariável, as locuções conjuntivas em geral terminam em "que": "ainda que", "desde que", "já que", "de modo que", "à proporção que", "haja vista que", "por mais que", "logo que", "mesmo que", "a fim de", "mas também" etc.


Arquitetura textual


A boa relação entre os termos de um texto, com frases e parágrafos devidamente articulados, é sem dúvida garantia de que a mensagem ou conteúdo seja transmitido de forma eficaz e sem ambiguidades.

As locuções pertencem à chamada "arquitetura textual", relacionando-se com palavras de outras classes gramaticais como numerais, pronomes, preposições e advérbios, assegurando assim a coesão entre as frases dos enunciados.

No gênero dissertativo, o papel das locuções é sensivelmente mais importante, e delas depende a linha argumentativa a ser sustentada ao longo do texto; ao passo que no gênero narrativo, as locuções estão geralmente ligadas a noções
de tempo, causa, consequência e finalidade.

À medida que x Na medida em que

Quando se usa "à medida que", é preciso lembrar que essa expressão equivale à locução "à proporção que", quer dizer, são conjunções proporcionais sinônimas. Frequente também é a locução "na medida em que", antes rejeitada por gramáticos tradicionais. Domingos Paschoal Cegalla, em Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa (Nova Fronteira) a considera "uma adulteração moderna da locução vernácula à medida que (...)".

O fato é que seu sentido nem sempre é claro. Pior do que essa, porque ainda rejeitada por muitos e considerada incorreta por alguns, é a locução "à medida em que", cruzamento de gosto duvidoso, mas registrada em certos textos jornalísticos.

Quem não quiser ter problemas em provas de examinadores rigorosos fará bem em evitar as duas últimas variantes. O que importa é que todas elas estabelecem uma relação de causa e efeito entre dois fatos mais ou menos paralelos.

"À medida que o Vesu envelhece, torna-se mais sábio."

"Os brasileiros perdem o medo da gripe porcina à proporção que o inverno termina."

"Na medida em que" às vezes indica proporcionalidade, às vezes, causa:

"Na medida em que o sol se põe, as sombras crescem."

Em Guia de Uso do Português (Editora Unesp, 2003: 510) a linguista Maria Helena de Moura Neves dá um exemplo do uso de "na medida em que" com valor de "causa", tirado do livro É, de Millôr Fernandes:

"O beijo de Mário é insensivelmente diferente, na medida em que ele agora sabe da sua valorização como macho."

Ao invés de x Em vez de

A expressão "ao invés de" significa "ao revés de", "ao contrário de". Não deve, portanto, ser confundida com a construção "em vez de", cujo sentido é "em lugar de". Os exemplos abaixo trazem as duas formas da expressão e não deixam dúvidas sobre os usos de cada uma delas:

"Mario continuou atirando, mas ao invés de se assustarem, os ratos ficavam mais neuróticos". (Blecaute. PAIVA, M. R. São Paulo: Brasiliense, 1986)

"Riram-se, Dona Sebastiana ao invés de leite foi buscar um cafezinho". (Ajudante de Mentiroso. JARDIM, L. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980)

"Em vez de
suicídio, afegãs buscam o divórcio". (Estadão, 09/08/2009)"Pai é condenado por rezar em vez de levar filha ao médico". (Portal G1, 01/08/2009)


Haja vista que

Segundo a linguista Maria Helena de Moura Neves, em seu Guia de Uso do Português (Editora Unesp, 2003), a locução "haja vista" não varia, mesmo que seja seguida de outras expressões no plural. Assim sendo, variações como "hajam vista" ou "haja visto" são consideradas incorretas:

"Policiais e delegados recebem a notícia com surpresa, haja vista que um policial com esta experiência poderia prestar serviços por mais 10 anos". (Jornal A Tarde, Salvador, 16/07/1992)

"Ninguém é insubstituível
- já diziam Pelé e Garrincha
- coisa sobejamente provada
- haja vista casos de Nunes e Waldomiro".

(O Telefone Amarelo. ANÍSIO, F. R. J. São Paulo: Rocco, 1979)

http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11837

domingo, 3 de janeiro de 2010

Sílaba tônica e acentuação gráfica



Sílaba tônica: É aquela com maior intensidade.

Ex.: Ca, mulher, caqui, trabalho, bado.

Sílaba átona: É aquela com menor intensidade.

Café, mulher, caqui, trabalho, sábado.


Obs.: Todas as palavras possuem apenas uma sílaba tônica e podem conter mais de uma sílaba átona.

Acentuação gráfica: É o sinal gráfico - (´) agudo ou (^) circunflexo.

Ex.: Chá, música, você, cirunstância.

Obs.: Não confundir sílaba tônica com acentuação gráfica, esta é o sinal gráfico utilizado em uma determinada sílaba (oxítona, paroxítona ou proparoxítona) e aquela é a sílaba mais forte, ou seja, é aquela pronunciada com maior intensidade.

A sílaba tônica pode ou não ser acentuada.

Exemplos: A palavra ci é acentuada e sua sílaba tônica é a mesma da acentuação.
A palavra capricho não é acentuada e sua sílaba tônica é o "pri" - uma paroxítona.

Por Cristiane Toledo.