Os brasileiros sempre querem saber o que é certo e errado; às vezes é tudo uma questão de regionalismo
O brasileiro tem a mania de querer saber qual é o "certo" e qual é o "errado", como se tudo se resumisse a esse tipo de dúvida.
Temos uma certa dificuldade de entender ou de aceitar formas alternativas. A realidade nos ensina que há variantes lingüísticas válidas. Em razão disso, o ensino de uma língua deve mudar do simples "certo ou errado" para o "adequado ou inadequado" num determinado nível de linguagem, para o mais recomendável ou não, para a forma preferencial em certas situações...
O que existe, muitas vezes, é a linguagem da maioria, mas isso não significa que um regionalismo seja "errado".
A dúvida de hoje é muito interessante. O verbo mostrar é a forma usada pela maioria. A variante amostrar é menos usada, mas isso não quer dizer que esteja "errada". O fato de ser um regionalismo ou de marcar uma fala "menos culta" não caracteriza um "erro gramatical".
É interessante observar que o substantivo derivado mais usado é amostragem. Praticamente ninguém fala "mostragem". Forma, inclusive, sem registro na maioria de nossos dicionários.
Já no caso de mostra e amostra, os dois substantivos convivem harmoniosamente: "mostra fotográfica" e "amostra grátis". Isso significa que as duas palavras "existem". A diferença entre elas não está no significado, mas nas situações de uso. Torna-se, portanto, uma questão de adequação.
Caso semelhante acontece com os verbos baixar e abaixar. Não discuta, portanto, se os juros baixaram ou abaixaram. Importante é que os juros diminuíram.
Assim sendo, é perda de tempo ficar discutindo se a pronúncia correta do particípio irregular do verbo pegar (=pego) é /pégo/ ou /pêgo/. Se poça d'água é /póça/ ou /pôça/. Se a casa é "da Maria" ou "de Maria". Se a fruta é cáqui ou caqui. Se o certo é falar quiuí (kiwi) ou quívi. Se a pronúncia correta de Roraima é /Rorãima/ ou /Roráima/. Se o plural de sogro é /sôgros/ ou /sógros/.
No Rio de janeiro, falamos /pégo/ e /pôça/ d'água.
Isso tudo comprova que não há o certo ou o errado, e sim formas preferenciais ou a língua da maioria.
Todas as variantes lingüísticas devem ser aceitas como válidas, embora possam ser inadequadas em determinadas situações. Importante é que todos os regionalismos sejam respeitados.
O leitor quer saber
Entreguei-o ou Entreguei-lhe?
Depende. As duas são possíveis.
Os pronomes oblíquos átonos O(S) e A(S) substituem objetos diretos: "Encontrei o aluno" = "Encontrei-o"; "Comprei os livros" = "Comprei-os".
O pronome oblíquo LHE(S) substitui objetos indiretos: "Obedeço ao pai" = "Obedeço-lhe"; "Disse aos amigos" = "Disse-lhes".
O verbo entregar é transitivo direto e indireto: quem entrega sempre entrega alguma coisa (objeto direto) a alguém (objeto indireto). Em "Eu entreguei o livro ao professor", "o livro" é o objeto direto e "ao professor" é o objeto indireto. Se substituirmos "o livro", fica "entreguei-o"; se substituirmos "ao professor", fica "entreguei-lhe".
No português do Brasil, é preferível colocarmos o pronome átono antes do verbo (= próclise): "Eu o entreguei" e "Eu lhe entreguei".
Dicas para concurso
Uso dos pronomes pessoais
1. Para mim ou para eu?
Depois de preposição devemos usar mim e ti, exceto se o pronome for sujeito. Nesse caso, devemos usar os pronomes pessoais retos eu e tu.
Ela depende de mim.
Confio em ti.
Não há segredos entre mim e ti.
Não há segredos entre você e mim.
Não há segredos entre Maria e ti.
Ela trouxe o jornal para mim.
Ela trouxe o jornal para eu ler.
Ele fez isso por mim.
Ele fez isso por eu estar cansado.
Irás até mim.
Irás até eu interromper.
É um texto difícil para mim.
É um texto difícil para eu ler.
Para mim, viver nesta cidade é um tormento.
Para eu viver nesta cidade, foi preciso que os amigos ajudassem.
Teste da semana
Que opção completa corretamente as lacunas da frase "Eu __________ e ___________ muito"?
(a) respeito ele / admiro ele;
(b) lhe respeito / admiro-o;
(c) o respeito / lhe admiro;
(d) lhe respeito / admiro ele;
(e) o respeito / admiro.
Resposta do teste: letra (e). Os verbos respeitar e admirar são transitivos diretos. Isso significa que devemos usar o pronome pessoal oblíquo "o": "Eu o respeito" e "Eu o admiro". O pronome "lhe" substitui objetos indiretos e o pronome pessoal reto "ele" substitui o sujeito da oração. Como o objeto direto das orações é o mesmo, não é preciso repeti-lo. Podemos deixá-lo oculto: "Eu o respeito e admiro".
Sérgio Nogueira
http://jornal.valeparaibano.com.br/2006/11/23/viv01/lingua.html