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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Expressões que confundem


Parecidas, certas locuções possuem usos e significados distintos

Embora sejam muito semelhantes, as locuções conjuntivas "à medida que" e "na medida em que" têm significados diferentes e nem sempre podem ser tomadas por sinônimas. O mesmo se dá com "em vez de" e "ao invés de", expressões similares, mas de uso sutilmente distinto. "Haja vista" é outra expressão invariável, formada pela terceira pessoa do imperativo afirmativo do verbo "haver" com o substantivo feminino "vista". Tem o significado aproximado de "veja" e costuma ser fonte de muitas dúvidas.

As chamadas "locuções conjuntivas" são formadas por duas ou mais palavras com função de um só vocábulo. Equivalem, portanto, a conjunções - palavras ou expressões que relacionam orações - e além de ter forma invariável, as locuções conjuntivas em geral terminam em "que": "ainda que", "desde que", "já que", "de modo que", "à proporção que", "haja vista que", "por mais que", "logo que", "mesmo que", "a fim de", "mas também" etc.


Arquitetura textual


A boa relação entre os termos de um texto, com frases e parágrafos devidamente articulados, é sem dúvida garantia de que a mensagem ou conteúdo seja transmitido de forma eficaz e sem ambiguidades.

As locuções pertencem à chamada "arquitetura textual", relacionando-se com palavras de outras classes gramaticais como numerais, pronomes, preposições e advérbios, assegurando assim a coesão entre as frases dos enunciados.

No gênero dissertativo, o papel das locuções é sensivelmente mais importante, e delas depende a linha argumentativa a ser sustentada ao longo do texto; ao passo que no gênero narrativo, as locuções estão geralmente ligadas a noções
de tempo, causa, consequência e finalidade.

À medida que x Na medida em que

Quando se usa "à medida que", é preciso lembrar que essa expressão equivale à locução "à proporção que", quer dizer, são conjunções proporcionais sinônimas. Frequente também é a locução "na medida em que", antes rejeitada por gramáticos tradicionais. Domingos Paschoal Cegalla, em Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa (Nova Fronteira) a considera "uma adulteração moderna da locução vernácula à medida que (...)".

O fato é que seu sentido nem sempre é claro. Pior do que essa, porque ainda rejeitada por muitos e considerada incorreta por alguns, é a locução "à medida em que", cruzamento de gosto duvidoso, mas registrada em certos textos jornalísticos.

Quem não quiser ter problemas em provas de examinadores rigorosos fará bem em evitar as duas últimas variantes. O que importa é que todas elas estabelecem uma relação de causa e efeito entre dois fatos mais ou menos paralelos.

"À medida que o Vesu envelhece, torna-se mais sábio."

"Os brasileiros perdem o medo da gripe porcina à proporção que o inverno termina."

"Na medida em que" às vezes indica proporcionalidade, às vezes, causa:

"Na medida em que o sol se põe, as sombras crescem."

Em Guia de Uso do Português (Editora Unesp, 2003: 510) a linguista Maria Helena de Moura Neves dá um exemplo do uso de "na medida em que" com valor de "causa", tirado do livro É, de Millôr Fernandes:

"O beijo de Mário é insensivelmente diferente, na medida em que ele agora sabe da sua valorização como macho."

Ao invés de x Em vez de

A expressão "ao invés de" significa "ao revés de", "ao contrário de". Não deve, portanto, ser confundida com a construção "em vez de", cujo sentido é "em lugar de". Os exemplos abaixo trazem as duas formas da expressão e não deixam dúvidas sobre os usos de cada uma delas:

"Mario continuou atirando, mas ao invés de se assustarem, os ratos ficavam mais neuróticos". (Blecaute. PAIVA, M. R. São Paulo: Brasiliense, 1986)

"Riram-se, Dona Sebastiana ao invés de leite foi buscar um cafezinho". (Ajudante de Mentiroso. JARDIM, L. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980)

"Em vez de
suicídio, afegãs buscam o divórcio". (Estadão, 09/08/2009)"Pai é condenado por rezar em vez de levar filha ao médico". (Portal G1, 01/08/2009)


Haja vista que

Segundo a linguista Maria Helena de Moura Neves, em seu Guia de Uso do Português (Editora Unesp, 2003), a locução "haja vista" não varia, mesmo que seja seguida de outras expressões no plural. Assim sendo, variações como "hajam vista" ou "haja visto" são consideradas incorretas:

"Policiais e delegados recebem a notícia com surpresa, haja vista que um policial com esta experiência poderia prestar serviços por mais 10 anos". (Jornal A Tarde, Salvador, 16/07/1992)

"Ninguém é insubstituível
- já diziam Pelé e Garrincha
- coisa sobejamente provada
- haja vista casos de Nunes e Waldomiro".

(O Telefone Amarelo. ANÍSIO, F. R. J. São Paulo: Rocco, 1979)

http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11837

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