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domingo, 6 de dezembro de 2009

As muitas faces do "quê"

Por ser a palavra com mais funções, é preciso moderação para não tornar o texto áspero

A palavra "que" pode ter várias funções morfológicas e sintáticas. Quanto à morfologia, que estuda as classes das palavras, pode ser substantivo, pronome, advérbio, conjunção, preposição e interjeição - seis das dez classes. Alguns sábios brincam ao dizer que "que" só não pode ser verbo. Exagero, claro. Ele também não funciona como artigo nem como numeral.

Quanto às funções sintáticas, pode ser sujeito, objeto direto ou indireto, predicativo do sujeito, adjunto adverbial, complemento nominal e agente da passiva. Palavra polivalente, portanto. Mas os autores cuidadosos evitam usá-lo, na mesma frase, pois o excesso de "quês" tende a tornar o texto duro e desarmonioso. Gustave Flaubert (1821-1880), por exemplo, autor de Madame Bovary, torturava-se por horas, às vezes dias, eliminando "quês", ecos, dissonâncias e palavras repetidas um tanto próximas.

O fato é que, quando se atravessa um texto com muitos "quês", tem-se a impressão de rodar numa carroça em paralelepípedos desalinhados. Há exemplos em algumas frases propositadamente "quesudas" mais abaixo. Convém lembrar que "que" usado isoladamente ou no fim da frase é acentuado, o que demonstra a pronúncia fechada do e e a tonicidade assumida por essa vogal em tais posições:

A ministra tem medo de quê?
É acentuado também o nome da letra:
O quê é a décima sétima letra do nosso alfabeto.


http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11858

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