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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Convergências E Divergências Na Definição De Sujeito Entre Gramáticos E Lingüistas



As análises aqui abordadas serão embasadas em estudos a partir dos gramáticos Celso Cunha e Lindley Cintra , Celso Pedro Luft e Rocha Lima e os lingüistas Eunice Pontes, José Rebouças Macambira e Mario A. Perini. É proposta deste trabalho discutir esses diversos critérios de definição de Sujeito, já que entre os autores citados há pontos semelhantes tanto quanto pontos incoerentes, como veremos a seguir.

Segundo Rocha Lima, em sua Gramática Normativa da Língua Portuguesa, sujeito é "o ser de quem se diz algo" (2002: p.234). Analisando a oração, "Pedrinho é inteligente" temos "Pedrinho" como sujeito, de acordo com a definição de Rocha Lima. Porém na oração "Roubaram aquele homem", o autor considera que há um sujeito indeterminado, que segundo sua definição é "aquele que não podemos ou não queremos especificá-lo" (LIMA, 2002: p.235).

Mas, se sujeito "é o ser de quem se diz algo", esta oração não deveria ser enquadrada como sujeito indeterminado, já que estamos dizendo algo sobre "aquele homem". Temos assim uma contradição de Rocha Lima, quando este utiliza a definição de sujeito indeterminado para classificar a oração utilizada.

Celso Cunha e Lindley Cintra em seu livro Nova Gramática do Português Contemporâneo declaram: "O sujeito é o ser sobre o qual se faz uma declaração" (2001: p.122). Como em "Matilde entendia disso", onde "Matilde" é o sujeito. Logo adiante, encontramos a seguinte afirmação: "[…] Algumas vezes o verbo não se refere a uma pessoa determinada, ou por se desconhecer quem executa a ação, ou por não haver interesse no seu conhecimento. Dizemos então que o sujeito é indeterminado" (CUNHA, 2001: p.128). Como em "Seqüestraram o garoto".

Nesta afirmação, podemos ver uma definição pouco eficiente, pois se refere ao sujeito como o termo que pratica a ação, o que nem sempre ocorre. No caso da voz passiva como na frase seguinte: "O garoto foi seqüestrado", em que o sujeito desempenha a função de paciente da voz verbal.

Para Celso Luft, em Moderna Gramática Brasileira, sujeito é o "[…] ser de quem se diz alguma coisa – é o elemento com o qual concorda o verbo" (2002: p.45). Vemos isso na oração "A lua é satélite da Terra", onde "A lua" é o sujeito da oração. Neste ponto, a definição de sujeito é praticamente idêntica entre os três gramáticos, com exceção de Luft que em sua descrição, acrescenta a questão da concordância verbal.

Luft também determina que "nas orações sem sujeito, o enunciado se concentra no predicado e este não é atribuído a nenhum ser ou agente" (2002: p.47), como na oração: "Há pessoas de bem entre nós". O que é incoerente, pois ao afirmar que sujeito é o "ser de quem se diz alguma coisa", ele está indo de encontra à sua definição de sujeito inexistente. Pois no momento em que observamos o enunciado "Há pessoas de bem entre nós", percebe-se uma declaração em relação a "pessoas".

Os lingüistas Mario A. Perini, Eunice Pontes e José Rebouças Macambira, abordam uma visão diferenciada a dos gramáticos quanto à definição de sujeito. Cada gramático assim como cada lingüista segue um estilo, um determinado conceito que ele mesmo formulou, mas se faz necessário perceber os defeitos, as contradições, os equívocos em tantas regras.

Perini questiona o conceito dado pelos gramáticos ao sujeito: "o ser de quem se diz algo", "ser de quem se diz alguma coisa – é o elemento com o qual concorda o verbo" ou o "ser sobre o qual se faz uma declaração". Pois para Perini, as noções acima citadas, se referem a outro termo da sintaxe, o tópico sentencial. De acordo com Perini, "tópico sentencial é o termo da frase do qual se afirma (ou pergunta) alguma coisa" (2006: p.193).

Ele também faz referencia ao fato de que os gramáticos passam de uma definição de sujeito para outra sem aviso. Perini ainda afirma que se seguirmos estritamente todas essas definições, fica impossível distinguir o sujeito em uma frase como: "O Danilo, os próprios irmãos não agüentam".

Para Perini:

"[…] Se o sujeito é o termo sobre o qual se faz uma declaração, o sujeito desta frase será O Danilo; se for o termo com o qual o verbo concorda, será os próprios irmãos; e se for o termo que pratica a ação, não há sujeito na frase, porque esta frase não expressa uma ação. A saída, evidentemente, é distinguir essa três funções: em O Danilo é tópico, os próprios irmãos é sujeito e não há agente." (2006: p.192)

Variavelmente dos gramáticos citados, Perini estuda o sujeito levando em conta a questão formal, e não a semântica. Para ele, o sujeito "é o sintagma que aparece em determinada posição na frase (nem sempre antes do verbo) e com o qual o verbo concorda." (2006: p.107). Exemplos: "Pedrinho apanhou dos vizinhos"; "Os gatos arranharam Pedrinho"; "Caiu o menino".

Perini nos indica nas frases acima, que ao contrário do que ensinam os gramáticos, o sujeito não ocupa lugar fixo nas frases, ele pode mover-se livremente sem que perca suas características de sujeito. E que nem sempre a concordância pode ser usada como forma de determinar o sujeito. Na frase "Ritinha matou Pedrinho" não fica claro com qual termo o verbo está concordando: Se está concordando com "Ritinha" ou com "Pedrinho", pois tanto Ritinha como Pedrinho estão na terceira pessoa do singular, e o verbo também.

Eunice Pontes, assim como Perini, confronta a definição de sujeito proposta pelos gramáticos. Para a autora, eles abordam um conceito contraditório, já que são conceitos facilmente derrubados a partir de uma analise mais atenta. Podemos ver isso nas noções de agente e paciente que, ao contrario do que alguns gramáticos afirmam agente e paciente, em alguns casos só são decididos a partir do contexto pragmático.

Tendo como base a frase "Marlene fez uma cirurgia", nada nesta frase indica se "Marlene" é passivo ou ativo. Mas se acrescentarmos ao texto a informação de que "Marlene" é médica, ela seria agente da oração; mas caso seja dito que "Marlene" tem um tumor no intestino, então será o paciente. Dessa forma, Eunice demonstra que em algumas orações não é possível perceber o sujeito fora de um contexto.

No fator de determinar agente e paciente, assim como se utilizar da concordância verbal são importantes, mas não são decisivos no reconhecimento do sujeito, tanto para Eunice quanto para Perini.

José R. Macambira, em seus estudos, observa o sujeito sob três aspectos: morfológico, semântico e sintático. No primeiro aspecto ele define o sujeito como "[…] a classe de palavra ou o tipo de oração que pode exercer tal função sob um ar de formalidade." (MACAMBIRA, 2001: p.174)

No aspecto semântico, Macambira distingue o sujeito como o "termo sobre o qual se afirma alguma coisa,[…] que funciona como ator ou suporte do predicado" (2001: p.166). Porém, o próprio autor afirma que na frase "um pequeno arranhão arrebatou a existência do presidente" não fica bem definido qual termo é o sujeito da oração.

"Não parece fácil convencer que na frase um pequeno arranhão arrebatou a existência do presidente, o ator seja um pequeno arranhão, a segundo plano relegado o presidente. Não resta dúvida que as definições sobreditas são muito abstratas para traduzir o sentimento lingüístico do sujeito[…]" (MACAMBIRA, 2001: p.166-167)

Sintaticamente, Macambira define o sujeito como "[…]o termo da oração que se liga ao predicado por um vínculo formal, ou seja, o verbo concorda em número e pessoa com o sujeito" (MACAMBIRA, 2001: p.168). Usando a frase "Os alunos admiram o professor" segundo Macambira, para descobrirmos o sujeito da oração basta alterar o verbo, o termo que se modificar será o sujeito. "O aluno admira o professor".

Ao fazer esta mudança constatamos que "o aluno" é o termo que se altera com a modificação do verbo, tratando-se assim de ser classificado como sujeito. E o termo inalterado da oração, trata-se do objeto. Entretanto, existem casos em que não se aplica a concordância verbal para encontrarmos o sujeito,"A maioria eram homens brutos". Neste caso o verbo "eram" não concorda com o sujeito "A maioria".

Macambira apresenta também outras definições para identificar o sujeito. Dentre elas temos a prova da substituição, que é aplicada somente a 3ª pessoa, o que basta, pois nas 1ª e 2ª pessoas não há problemas: o termo não-preposicionado que pode ser substituído por "ele", "ela", "eles" ou "elas", é o sujeito da oração: "O aluno admira o professor", "Ele admira o professor".

Entretanto há casos em que não podemos seguir a regra apresentada acima. Em casos que o sujeito é representado por um substantivo neutro, ou seja, "[…] algo nem feminino nem masculino, porque nossa linguagem não possui o pronome-sujeito correspondente; em face desta lacuna, usa-se o pronome neutro isto, sempre anteposto ao verbo[…]" (MACAMBIRA, 2001: p.170). " Ficou decidido que o réu seria perdoado", "Isto ficou decidido" é uma situação em que pode ser utilizada esta substituição.

Também há a prova da pergunta, em que " para encontrar o sujeito, faz-se a pergunta quem? Ou o quê? Ao verbo, antes e não depois" (MACAMBIRA, 2001: p. 171). Como nas frases "Ana saiu cedo", quem saiu cedo? "Ana", "O excesso de velocidade provocou o desastre", o que provocou o desastre? "O excesso de velocidade". Nestes casos então "Ana" e "O excesso de velocidade" são os sujeitos das orações.

Dessa forma Macambira tem uma visão mais aberta em relação tanto aos gramáticos quanto aos outros lingüistas citados, pois ele apresenta mais de uma prova para se encontrar o sujeito, deixando claro que é necessário mais de uma definição para identificá-lo. Porém o próprio Macambira conclui:

"[…] Nem uma destas provas tem valor absoluto: é preciso em certas ocorrências, que o analista utilize habilmente várias provas para estar seguro o que faz e livrar-se de possíveis enganos[…]."(MACAMBIRA, 2001: p.173).

Isto comprova também que nenhum de seus conceitos são inquestionáveis ou satisfatórios. Apesar disto, suas considerações são mais abrangentes e dão ao usuário da língua possibilidades maiores para a assimilação do sujeito.

Enfim, analisando todas as definições dadas por gramáticos e lingüistas quanto ao sujeito, pudemos perceber que há divergências e incoerências nas definições de cada um, o que torna a classificação do sujeito algo bastante complexo e, conseqüentemente incerto. Se gramáticos e lingüistas chegassem a uma opinião em comum, poderiam reformular o conceito de sujeito e apresentar uma análise mais sistemática e coerente entre si. Caso isto ocorra, tanto gramáticos como lingüistas nos ofereceriam um conceito objetivo e realmente confiável para todos estes casos.

Referência:

CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 3.ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 2001. p. 122-132.

LIMA, C. H. da Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 42. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002. p. 234-235.

LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Globo, 2002. p. 45-52.

MACAMBIRA, J. Rebouças. A Estrutura Morfo-Sintática do Português: Aplicação do Estruturalismo Lingüístico. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2001. p. 166-177.

PERINI, M. A. Princípios de Lingüística Descritiva: introdução ao pensamento gramatical. 4. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. p. 107, 189-201.

PONTES, Eunice. Sujeito: da sintaxe ao discurso. São Paulo: Ática, 1986. p.15-30, 117-142.
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